Avózinha (Sim, com acento...)

Junho 21 2010

Após o meu exercício, aqui exposto neste espaço, de me imaginar na “pele” de um piaçaba, houve com certeza quem me imagina-se no lugar de mil e uma coisas, mil e uma torturas direi eu, alguns não se contiveram e sugeriram mesmo que aplicasse a mesma receita mas que trocasse o piaçaba por um penso higiénico, ou um tampão. A sugestão veio, pois claro, do sexo feminino e primeira coisa que me veio ao pensamento foi «troquem vocês e perceberão de imediato a diferença», não vou no entanto fugir ao cerne da questão, mas não irei tão fundo, portanto, ficar-me-ei pelo penso higiénico.

 

Esse grande amparo na higiene das mulheres que as ajuda a atravessar uma das três fases difíceis das suas vidas, o período menstrual, as outras duas serão, antes da menstruação, e o depois. Verdadeiramente até são quatro, porque quando fecham a loja dos bebés entram na menopausa, e depois deve-se seguir outra qualquer, elas já me devem estar a rezar pela pele mas o que posso fazer, pediram não pediram?

 

Eu penso que o penso (boa esta hein!?) está para elas ao mesmo nível que um amigo gay, e não pretendo fazer qualquer tipo de discriminação ou ser ofensivo (a comparação não é literal), mas um amigo gay fá-las sentir seguras e mais confiantes, talvez até as compreendam melhor, podem dormir com eles descansadas que sabem que não há perigo de se aproveitarem ou atirarem, deixarem cair uma mãozinha, além disso, segundo dizem elas, é sempre bom ter um por perto.

 

A julgar pelos anúncios de publicidade os pensos devem conter alguma substância dopante ou anti-depressiva, porque é vê-las dançar, pular de alegria e a brincar umas com as outras em largos sorrisos. Essa alegria contrasta no entanto com o espírito suicida das almofadas descartáveis, sim, são os kamikaze da era moderna, têm uma única missão na vida e depois não há mais nada a seguir, e claro, tal qual como acontecia com os pilotos japoneses, após acertar no alvo o resultado era sempre sangrento...nada bonito de se ver.

 

Pensa o penso:

«ora aí vou eu...é pá! Qué isto? Será que esta nunca leu as instruções de uma embalagem de cola de contacto (?) limpar e polir bem a zona a aplicar antes de unir as duas superfícies...tssst tssst, bem, lá terá de ser...com mil raios, onde me vais pôr (?) isto mais parece a cara do Fidel Castro, ou será a Sierra Maestra? Banzaaaaaiii»

 

Agora devem estar à espera de alguma conclusão filosófica mas, não há grande dignidade no plano dos artigos descartáveis, nem se pode comparar à figura digna do piaçaba que não tendo uma missão fácil sempre vai tendo várias vidas, mesmo que na merda, o penso esse «assim que pensa, já não existe».
Será que iremos ver um movimento semelhante ao que acontece hoje com as fraldas dos bebés, o retorno ao uso do pano? Aí terei de rescrever esta porra toda.

 

Inté

publicado por Avózinha às 23:44

Maio 31 2010

«...à velocidade de 300 rotações por minuto! A embalagem inclui também duas escovinhas para chegar mesmo aos pontos mais difíceis de alcançar. Dim.: (corpo motor) 16 cm comp. X 5 cm ø; (escova) 26 cm comp.. Funciona com 4 pilhas AA, não incluídas. »
Calma meninas, não comecem já a suspirar, lamento vos desiludir (ou não) mas o que acabaram de ler não é mais do que as características técnicas retiradas de um folheto de um Piaçaba rotativo eléctrico para WC.

 

Como sempre, na minha demanda pela paz de espírito e em busca de algo que me convença de que a forma como nos olhamos e sentimos é o mais importante, ou não fosse o Piaçaba um objecto de grande utilidade e mais valia mas algo que é visto de forma pouco simpática. Por vezes na vida temos de nos sujeitar e sacrificar em papeis que não são bonitos nem fáceis, contudo, isso nunca fará de nós pessoas sem valor, nada melhor que este objecto para demonstrar isso mesmo, acho eu.

 

Por momentos resolvi assumir a personagem de um Piaçaba (acreditem que não é fácil) e imaginei várias situações. Se havia uns quantos que nem sequer recorriam ao meus serviços, outros serviam-se deixando o sítio impecável mas a mim numa verdadeira lástima, e claro, houve também aqueles que compreenderam e respeitaram a minha verdadeira função, ausentando-se do «local do crime» ficando para trás tudo em perfeitas condições, por vezes até melhor do que encontraram.

 

O denominador comum, independentemente de quem usa o dito utensílio, nunca deixará de ser a capital função que desempenha. É verdade que o valor e respeito que lhe é atribuído é que varia, e nem sempre lhe é dado bom uso, nem da forma mais correcta, mas a atitude errada poderá vir de quem recorre a este verdadeiro amigo dos locais onde largamos o...vocês sabem, existem um monte de nomes para os nossos despojos, todavia um Piaçaba deve sempre manter a postura.

 

As instruções começam assim «Uma fantástica ajuda para a limpeza e higiene da sua casa de banho! Graças à rotação da escova, elimina a sujidade e as incrustações de calcário em poucos instantes e sem esforço. Basta carregar num botão para a escova começar a rodar...». Claro que está subtil, a descrição é colocada de forma ligeira para atrair hipotéticos compradores, na verdade todos sabemos que lá vamos parar pois as necessidades fisiológicas do nosso organismo são um relógio que se pode atrasar mas não pára, assim, mesmo que os nossos predicados não assistam aos melhores padrões de beleza, podemos sempre expô-los da melhor maneira possível, talvez por vezes um pouco de marketing em relação a nós próprios não faça mal nenhum, pelo contrário, talvez ajude...mas não vale ser desonesto.

 

Pode ser vantajoso para as nossas vidas encarnar-mos o papel de um Piaçaba, porque nem tudo são rosas e por vezes também nem sempre é tão mau como pintamos, ás vezes temos de suportar cada cheiro. A grande vantagem é que a qualquer momento podemos sair do personagem e lembrar que não estamos ali só para decoração e muito menos para ser utilizados de qualquer maneira, exigir respeito, dignidade...ou será preciso esfregar o Piaçaba na tromba de alguém!?

 

Inté

publicado por Avózinha às 22:17

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